Entre Corpos Toadas e Batuques é um curso ministrado por Letícia Coelho desde 2017, agora em versão Online!
A proposta aqui é um encontro imersivo para se aprender sobre tradições populares brasileiras, também chamados brinquedos populares, sob caminhos pedagógicos da oralidade em diálogo com métodos e pesquisas acadêmicas decoloniais.
É objetivo desse curso trazer o conhecimento teórico-prático presente em manifestações populares brasileiras afro-ameríndias, partindo da conexão entre músicas, ritmos, corporeidade, danças, indumentárias e mitos fundantes de forma a acessarmos a energia lúdica que as sustentam e constroem sentido no mundo.
O convite é para educadores, musicistas, dançarines, brincantes, curioses e demais pessoas interessadas em pensar sobre noções de cultura, arte, tradição, epistemologias afro-ameríndias, branquitude e descolonização dos currículos de arte a partir dos nossos brinquedos populares. Ainda, ao realizarmos nossa imersão, serão compartilhados repertórios musicais, práticas rítmicas, jogos e materiais de pesquisa para que todes enriquecerem seu repertório e continuarem suas pesquisas individuais.
DE ONDE PARTIMOS
Como uma nação colonizada que somos, possuímos também um olhar colonizado sobre nossas próprias práticas. A escolarização e os processos educativos chamados "formais" partem de métodos e conceitos construídos em um "norte" branco do mundo, Europa e Estados Unidos, deixando de lado as epistemologias pulsantes e fundantes de um "sul" multicultural.
​
As manifestações populares brasileiras afro-ameríndias são espaços de produção e resistência de conhecimentos fundantes de nossa cultura. Ausentadas em nossos livros e invisibilizadas em nossa sociedade e história "oficial" colonizada e branca. Conhecê-las é pensar filosofia, educação, e mergulhar em um vasto repertório de inventividades possíveis e práticas artísticas decoloniais.
​
Abrir mesmo uma nova e grande janela.
​
Falo aqui das Congadas, Reizados, Tambores de Crioula, Catopês, Bois de Matraca, Jongo, entre outras tantas! Nelas a arte não está dissociada da prática cotidiana, ela é a pratica cotidiana. Portanto, também não se dissociam a música da dança, a corporeidade do baile do corpo do trabalho, o festejo da vida.
​
Desta forma, esse curso se funda nesse chão, em que o brinquedo "é" cultura e não "faz parte" da cultura. E junto a esse giro epistêmico podemos girar nossa forma de nos relacionar, de fazer arte e de ensinar.
O CURSO
Esse curso, para além de um espaço educativo, é um espaço de troca, de encontro e de resistência de saberes populares. Sendo que em sua maioria, foram aprendidos por mim de forma oral.
​
Portanto, nos encontraremos, a cada módulo ao vivo, de forma a mantermos o caminho do aprendizado popular, na presença (mesmo que virtual), como um festejo semanal.
​
Entre Corpos acontece em cinco (5) módulos em encontros síncronos com duração de três horas (3h) . Além dos encontros com toda a turma, haverá também o compartilhamento de materiais ao longo das semanas. Totalizando quinze horas de curso (15h)
​
Haverá emissão de certificado.
Módulo I Chegança
-
Apresentação da episteme do curso.
-
O que é cultura popular? O que a define?
-
Quais os conceitos acerca das noções de tradição?
-
Socialização e apresentação de processos de aprendizado popular, a observação e a educação da atenção.
-
Música popular brasileira, ou música tradicional popular brasileira, ou seria só “música”?
-
A dança se faz antes da música? ou a música se faz antes da dança? (o ovo ou a galinha?)
-
Tambor veio de África? E a melodia? O mito das três raças ou mito da democracia racial.
-
Que corpos entram na dança?
-
Utilizaremos métodos de apreciação, prática e tradução de rítmicas tradicionais.
Módulo II Em roda sou ciranda
-
Apresentação e prática de conceitos fundantes do que definimos como música e na dança. Práticas com noções de pulsação, ritmo, ritmica, ars, tesis, claves, notação de curtos e longos e time lines.
-
Mergulharemos no universo das cirandas, da dança o pulso a rítmica e sua riqueza ao longo do Brasil.
-
A ciranda como jogo infantil e a ciranda como espaço de improviso poético.
-
Mestras e Mestres.
-
Que corpo gira nessa festa?
-
Organologia presente nesse festejo, claves rítmicas e propostas de registro escrito.
Módulo III Em roda quebro coco
-
Como pensar a festa, a artisticidade como cultura e não como parte da cultura?
-
Amassar o barro dos conceitos encaixotados para construirmos nossa casa em que a roda acontece.
-
Mergulharemos no universo dos cocos de roda, jogos de improviso e dança e sua riqueza ao longo do Brasil.
-
A conexão do fôlego e da dança com a clave que sustenta a brincadeira, suas variações e propostas de registro escrito.
-
As rítmicas presentes nos cocos.
-
O coco e o baião, primos irmãos.
-
Que corpo quebra o coco?
-
A organologia presente nesse brinquedo.
Modulo IV Em fila, cortejo!
-
Antes de sair à rua, o fundamento do tambor e nossa matriz afro-ameríndias.
-
Serão apresentado o sistema dos três tambores , grave, médio e agudo presente em manifestações religiosas afro-ameríndias brasileiras como candomblés, umbandas, juremas, candombes, batuques.
-
Apreciaremos registros de manifestações parentes que acontecem na rua como tambor de crioula, jongo, tamborzada, samba de roda.
-
O sagrado na rua: Congadas, Moçambiques e Reinados mineiros, sua musicalidade, sua história de resistência e constante atualização diaspórica de suas tradições.
-
Os tambores, sua organologia, sua relação com o mito fundante da manifestação.
-
Que corpos são esse cortejo?
-
A rítmica, as claves e a dança.
Modulo V Desafio da morte e vida
-
Festejar os ciclos, a morte, a vida, o que se renova em desafio.
-
Das manifestações populares mais presentes no Brasil, os Bois são o tema do nosso último encontro.
-
Festejar os ciclos, a morte, a vida, o que se renova em desafio.
-
Mergulharemos nos Bois Bumbás, Boi de Mamão, Boi de Matraca, Cavalo Marinho universos em que a saga do Boi constrói um calendário anual de vida e morte em um enredo aberto a invenção.
-
Será uma dança-teatro?
-
A loa, o desafio como o chão que sustenta a brincadeira. Como se brinca o boi aqui? Entraremos em contato com a multiplicidade de narrativas e mitos presentes nesse universo. Que corpos brincam esse jogo?
-
A organologia do brinquedo.
-
As claves presentes nos bois, toadas, enredos que se conectam.
-
O enredo costurado pela dança, música e a palavra-desafio.
-
Fechamento
Informações adicionais
-
As aulas terão parte teórica e parte prática
-
Haverão materiais complementares às aulas disponibilizados ao longo do curso
-
Referências teóricas serão enviadas após inscrições
-
As aulas não serão gravadas
-
Serão ofertadas 7 bolsas integrais para alunes autodeclarades negres, indígenas e transexuais com perfil socioeconômico de baixa renda (30% das vagas). Para se candidatar envie uma pequena biografia e carta de intenção para: entrecorpostoadasebatuques@gmail.com .
DEPOIMENTOS
"Participar da oficina, que no momento delicado da pandemia, teve que ser realizado de forma virtual, foi uma conexão para nos manter firmes, moventes e com aquela força de esperança que logo vamos batucar nas trupés das manifestações populares sentidas, vibradas e dançadas durante a oficina.
Me tocou e ficou o pulsar...pulsar é verbo que fica desse encontro."
BIANCA BAZZO
Artista da Dança e Professora do curso de Graduação em Dança da Universidade Federal de Sergipe - UFS
"O curso Entre Corpos foi uma experiência engradecedora não só do ponto de vista dos ricos conteúdos interculturais de raiz trabalhados, entre toques, danças e histórias das culturas, mas também em termos de didática da participação e da alteridade. Aulas cheias cheias de Asé, crescimento e reciprocidade."
LUCAS VEZZANI
Arte - educador autônomo, bonequeiro e músico na Associação Folclórica Boi de Mamão do Campeche.